Esses dias estava no ônibus - mais especificamente no cruzamento da avenida Brasil e Amazílio Lino - e lembrei da imagem que a Angélica
mostrava nas aulas de urbanismo. E resolvi fazer uma conta rápida. No
ônibus que eu estava tinham entre 60 e 70 pessoas - bem tranquilo, não
era horário de pico - e ao lado do ônibus tinham aproximadamente 15
carros distribuídos em duas faixas, a maioria com apenas 1 ocupante, ou
seja, haviam 15 pessoas ocupando o mesmo lugar que um ônibus com
70 pessoas.
O que me impressiona é que não estou falando nenhuma
novidade, muito pelo contrário, estou falando o óbvio, e me questiono
porque os planejadores não observam tais detalhes antes de pensar
soluções que resolvem exclusivamente o problema do carro. Quando ouvimos
dos nossos professores, e posteriormente falamos para nossos alunos
sobre a importância da percepção do espaço, é aí que queremos chegar.
Imagens de satélite, mapas e dados estatísticos são importantes, sim.
Porém, andar pela cidade, a pé ou de ônibus, é vivenciar o espaço,
perceber os pormenores, os detalhes. Acredito que enquanto os
planejadores públicos brasileiros não saírem um pouco de seu conforto,
continuaremos na contramão do desenvolvimento urbano e realizando obras
antieconômicas que acentuam cada vez mais a desigualdade no direito à
cidade. Muitas pessoas me falam "ah mas você acha que as
pessoas vão largar o seu carro para andar de ônibus? A primeira coisa
que uma pessoa faz quando junta uma grana é comprar um carro, porque
andar de ônibus é muito ruim." Sim, concordo, andar de ônibus
tem muitas desvantagens, mas tais desvantagens existem justamente por
priorizar o individual e não o coletivo.
O custo da cidade é coletivo,
os impostos são coletivos, mas o direito está cada dia mais individual. A
ideia não é proibir os carros, o ponto principal quando se fala em
mobilidade urbana, é dar opções justas para que a população de uma
cidade faça suas escolhas.
O planejamento urbano brasileiro é preguiçoso
e acomodado pois não se propõe a lidar com a complexidade de forma
efetiva, dedicando tempo e trabalho a buscar soluções amplas e que
conectem ao mesmo tempo as diversas camadas da cidade. Lento e
imediatista pois não consegue perceber que o tempo da cidade é muito
mais acelerado que o tempo da política. Sair um pouco da sala
confortável com ar condicionado e andar pela cidade é um excelente
primeiro passo.
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